
A Linha do Oeste | Ana Carolina Helena . Arquitecta
Em 1873, pela mão do Duque de Saldanha, o primeiro “cavalo rinchão”, como foi humoradamente apelidado pela população, cruzou o concelho, apeando-se na Venda do Pinheiro e na Malveira, no caminho de Lisboa a Torres Vedras. Os carros “larmanjat” – homónimos ao criador francês – eram lentos e pouco fiáveis, “deslocando-se à velocidade de 15, 20 quilómetros (por hora) no máximo”, conta Amândio Quinto, em Coisas Velhas de Tempos Velhos (2002). Os carris de madeira, que podiam ser dispostos sobre a estrada existente, facilitaram a sua implementação, mas foram também o motivo do seu curto uso, pois no Inverno, com a chuva, inchavam, originando frequentes “capotamentos e descarrilamentos”.
As bitolas metálicas chegaram pouco depois: a Linha do Oeste, uma iniciativa da Companhia Real, começou por ligar Alcântara ao Cacém, para depois se estender a Torres Vedras, a Leiria (1887) e, por último, à Figueira da Foz (1888). Os mafrenses foram servidos por duas estações – Mafra-Gare e Malveira – e um par de apeadeiros. Importante motor da urbanização da periferia norte da capital, a linha servia a população crescente e facilitava a ligação das indústrias locais às feiras e a Lisboa.
Nos anos 50, consagrou-se como importante eixo turístico, mas trinta anos depois, com a entrada portuguesa no espaço europeu e a priorização da rede viária, a sua procura, especialmente de passageiros, caiu significativamente.
Numa área suburbana marcada pela ditadura do automóvel, o comboio é um promotor de igualdade sócio-económica e geracional. Liberta também as nossas aldeias e vilas de muito tráfego viário, reduzindo a necessidade de alocar mais espaço a estacionamento e tornando as deslocações a pé mais seguras e prazerosas. Espera-se que a longamente prometida electrificação da linha, definida como prioritária pelo Plano Ferrovia 2020, se apresse, garantindo à população uma opção mais eficaz, rápida e ecológica para as suas deslocações.
Artigo de Opinião © Ana Carolina Helena Arquitecta, Venda do Pinheiro
(Texto escrito de acordo com a antiga ortografia, originalmente publicado na coluna “Arquitectura, Paisagem e Mafra” do jornal local “O Carrilhão” )
Imagem – (A Estação Ferroviária da Malveira, vencedora do 2º Lugar no Concurso da Estações Floridas de 1962, um prémio à qualidade das áreas ajardinadas envolventes. Um registo fotográfico da autora de Agosto de 2020.)