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Democracia da arquitetura – A completar cinco anos em Matosinhos, a Casa da Arquitectura alcançou mais um marco importante na construção e promoção global da visibilidade da arquitetura nacional.
A era digital possibilita aos arquitetos retomarem a relação estrutural com a sociedade, não apenas no processo conceptual dos edifícios, mas também na comunicação com o público em geral. As múltiplas dimensões associadas à implementação e liderança de processos de transformação digital revelam que a tecnologia é apenas um dos pontos de uma complexidade de problemas que se levantam em cada projeto de arquitetura.
A democratização do acesso ao conhecimento é a outra face, sendo um fator essencial na explicação do papel da arquitetura na sociedade contemporânea.
A tarefa tem sido assumida pelo projeto Casa da Arquitectura, uma conquista marcante da arquitetura nacional e internacional desde 2007. A missão à primeira vista parece simples: “Tratar, arquivar e dar a conhecer, através de diversos instrumentos, os acervos e espólios de arquitetura doados, depositados ou entregues ao seu cuidado”. Mas é muito mais, ao tornar-se um espaço da democracia da arquitetura.
Segundo o arquiteto Nuno Sampaio, diretor executivo da Casa da Arquitectura, “faz-se essencialmente em três planos: ajudando a perceber a arquitetura, dirigindo-se à sociedade civil, levando a que arquitetura seja explicada de forma facilmente entendível por todos”.
A Casa, como abrigo, é um espaço que articula a preservação da memória, a sua valorização e afirmação das diversas áreas do saber-fazer. Um lugar onde as questões se colocam e as respostas se constroem. Para Jean-Louis Cohen e Vanessa Grossman, trata-se de “uma fértil interação entre comunidade e mundo da arquitetura”.
O acervo já é extenso, 110 mil documentos digitais (desenhos e multimédia) e 58 mil documentos físicos (desenhos, textos, publicações e maquetes), correspondendo a 25 mil peças desenhadas físicas, 30 mil itens multimédia, 1.100 pastas de material textual, 850 maquetes e 1.500 publicações.
A completar quase cinco anos em Matosinhos, na antiga Fábrica Real Vinícola, alcançou, na semana passada, mais um marco importante na construção e promoção global da visibilidade da arquitetura nacional. A Casa deixou de ser local.
O denominado Edifício Digital de três pisos, abriu a Casa, o Arquivo e a Loja online ao mundo, com o objetivo de continuar a construir e estimular uma consciência coletiva em torno da importância da arquitetura, através da acessibilidade e conhecimento digital a todo o património documental depositado no espaço em Matosinhos. Mais de dez mil itens estão agora disponíveis para consulta online. O Edifício disponibiliza também visitas virtuais às exposições, 250 filmes de conferências e debates, seminários e catálogos.
Da Casa para o mundo, um espaço para todos, promotor simultaneamente de reflexões disciplinares, entre especialistas, e de conhecimento ao público através de eventos e atividades educativas. O Arquivo quer-se uma porta de acesso universal aos acervos, a estudantes, profissionais vários, arquitetos, académicos, e associações culturais. A Loja virtual tem o potencial de difusão da obra dos arquitetos através de novas publicações temáticas.
A plataforma digital, por sua vez, disponibiliza não só expressões arquitetónicas qualificadas, mas também um campo de investigação e inovação identitário. O investimento na valorização da arquitetura é uma forma de qualificação sustentável.
Artigo publicado no © Jornal Económico . Artigo de Opinião de Alexandra Paio, Docente do ISCTE-IUL