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Eficiência energética e a descarbonização no sector dos edifícios – De acordo com as Nações Unidas, cerca de 55 % da população mundial habita nas cidades, prevendo-se que haja um crescimento para quase 70 % em 2050. Aliando estes dados ao facto de as cidades consumirem 70% dos recursos globais e emitirem 70% de Gases de Efeito de Estufa (GEE), diversos desafios se impõem.
As incertezas que advêm das alterações climáticas levam a uma maior reflexão em torno destas problemáticas e dos processos de planeamento, urbanização e dos modos de construir. Mas, é nas cidades onde se encontram as oportunidades de mudança numa perspectiva de transição ecológica, para um futuro urbano, necessariamente, sustentável.
A densificação populacional que se prevê nos centros urbanos e a pressão, gradual, que essa circunstância provoca sobre os recursos naturais obriga a um reposicionamento da forma de pensar em como os edifícios poderão promover uma regeneração do ambiente natural e do tecido construído.
Importa referir que, segundo dados da Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG), o sector dos edifícios é responsável pelo consumo de, aproximadamente, 40% da energia final na Europa e cerca de 30% em Portugal. Numa perspectiva de redução de emissão de GEE para a atmosfera, através de processos de mitigação dos impactes das alterações climáticas, o tema da eficiência energética nos edifícios reveste-se da maior pertinência, orientando para a descarbonização do sector. Considerando a assinatura do Acordo de Paris em 2015 um momento histórico, Portugal comprometeu-se em reduzir as suas emissões de GEE, para que, em 2050, o balanço entre as emissões e as remoções de carbono da atmosfera seja nulo. Neste âmbito, o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC 2050) é uma importante estratégia rumo à descarbonização dos diversos sectores e da economia portuguesa. No caso do sistema energético no sector dos edifícios (residências e de serviços) estimam-se, em 2050, reduções de emissões no sector residencial de 97% e de 100% no sector dos serviços (face a 2005), passando a incorporação de energias renováveis no aquecimento e arrefecimento a ser de 66% e 68%. Prevê-se, de igual forma, uma redução da intensidade energética dos edifícios residenciais e de serviços, respectivamente de 7% a 20% e 42% a 43%, até 2050. Neste contexto deverão enquadrar-se, nos processos de concepção e construção, as variáveis previstas no horizonte até 2050, incorporando melhores soluções construtivas nos edifícios, através da circularidade de recursos naturais e técnicos, como uma condição, inevitável, para a redução de consumo de energia e para uma melhoria da qualidade do ambiente urbano.
Artigo publicado na Revista Anteprojectos – Junho de 2021 / Edição 322 . Artigo de opinião de Márcio de Campos, Arquitecto