
Simão Lima apresentou como dissertação no Mestrado em Arquitetura, um projeto que pretende intervir a zona ribeirinha das Taipas, no concelho de Guimarães, de forma a fazer face às cheias. Proposta transversal, esta dissertação propõe um projeto que seria “impactante” para a vila.
Trata-se de um projeto arrojado e até “impactante” como o próprio autor reconhece. A dissertação de Simão Lima foi sobre “O Espaço urbano e as dinâmicas de um rio: o caso da Vila Caldas das Taipas”, na qual apresentou uma proposta para lidar com as cheias que se fazem sentir nas Taipas, junto ao Rio Ave e à Ribeira da Canhota. “Queria trabalhar um tema que resolvesse uma problemática a nível internacional, que tocasse numa grande amplitude de usufruintes, e optei por uma situação que vivencio quase anualmente, que são as cheias aqui nas Taipas”, começa por referir o arquiteto de 24 anos natural de Santa Eufémia de Prazins, pertencente ao concelho de Guimarães.
Na sua proposta Simão Lima aponta à reabertura da Ribeira da Canhota, que foi entubada, optando depois pela construção de dois açudes capazes de suster a força da água. Para além disso, propõe a criação de três novos edifícios, uma biblioteca, uma cafetaria e balneários, fazendo a ligação a vários pontos da vila através de passadiços. Uma solução que, na visão de Simão Lima, permitirá que “os Banhos Velhos não se inundem e as Termas Novas não sejam afetadas”.
Após uma análise extensa, através do recurso ao contacto com moradores de zonas afetadas e recurso à imprensa e a espólios particulares, Simão Lima acredita que as Taipas pode abraçar o meio hídrico e adaptar-se ao seu curso natural. “A minha proposta é reestabelecer a abertura da Ribeira da Canhota, isto porque a minha temática não é impor um limite ao meio hídrico, mas sim reconhecer o meio hídrico como uma potencialidade e não como um problema, adaptando esse mesmo meio. O que pretendo é que as cheias não sejam um elemento a temer, mas sim que traga as pessoas para a rua, que percorram os passadiços em caso de cheia”, aponta o autor deste trabalho.
Um trabalho complexo, como o próprio reconhece, uma vez que implica uma mudança de mentalidade das pessoas. “Procura-se mudar a morfologia da vila, mas também mentalidades. O que se pretende é uma coisa contrária ao natural do ser humano, que é que não se retraia em relação a uma subida do nível da água, que não tenha medo da aproximação e que tenha o desejo de se aproximar e de poder caminhar sobre esse fenómeno”, atira.
No fundo, trata-se de um exercício teórico com dificuldades de resvalar para a prática, até porque diz respeito a uma área extensa e com custos avultados. Ainda assim, Simão Lima, que obteve a classificação de 18 valores na sua dissertação, acredita que é possível implementar alguns traços da sua proposta, dando conta que a Junta de Freguesia de Caldelas solicitou o acesso à dissertação. “Não penso em executar o projeto todo, mas há certas coisas que são de fazer uma introspeção nas Taipas, quem tem poder, com diversos elementos que podem e devem ser considerados, nomeadamente o caso dos Banhos Velhos, que deve ser pensado e articulada uma estratégia que procure proteger o nosso património que várias vezes sofre inundações”, refere. A proposta referente aos Banhos Velhos inclui uma piscina museológica. “Vai contra algumas ideologias e vontades, já teve diversas fases e sofreu diversas mutações. Atualmente é utilizado como um local para eventos culturais. A minha proposta passa por reformular a topografia em torno dos Banhos Velhos, de forma a que continue a receber a programação cultural e proponho um novo programa, sendo uma piscina museológica”, complementa.
Em conclusão, Simão Lima acredita que “não devemos fazer frente ao meio natural”, pelo que a sua proposta, defendida publicamente no dia 3 de julho de 2020, diferencia-se do que está programado pela Câmara Municipal de Guimarães, que prevê a construção de bacias de retenção.
Artigo publicado no Reflexo Digital por Bruno José Ferreira