
O arquiteto britânico Kenneth Frampton, vencedor do Prémio Carreira Trienal de Lisboa 2013, afirmou hoje que o futuro da arquitetura poderá estar menos nos edifícios espetaculares e mais nas intervenções em pequenas comunidades.
Kenneth Frampton está em Portugal para receber o prémio da Trienal numa cerimónia que se realiza na segunda-feira, às 19:00, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde irá proferir uma conferência, a segunda, depois de ter falado no Porto, na sexta-feira.
Contactado pela agência Lusa, o arquiteto, de 84 anos – que se tem dedicado à crítica e reflexão nesta área – disse estar muito honrado pelo prémio de carreira que vai receber, «sobretudo pelos anteriores galardoados, Álvaro Siza Vieira e Vittorio Gregotti».
Sobre a atual crise económica em Portugal e a forma como tem afetado negativamente a construção, diminuído o trabalho disponível para os arquitetos, muitos deles forçados a emigrar, Frampton disse conhecer a situação do país, “semelhante a Espanha”.
“Não é nada bom, e muito difícil para os arquitetos, mas poderá ter de positivo uma paragem nas formas de construção extremas e não devidamente planeadas”, comentou.
Kenneth Frampton, arquiteto, crítico e professor nascido no Reino Unido, em 1930, é graduado em arquitetura pela Architectural Association School of Architecture, em Londres.
Ao longo da carreira, escreveu vários livros e ensaios sobre arquitetura e é atualmente docente na Graduate School of Architecture, Planning and Preservation da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.
“Está tudo a mudar muito rapidamente. A situação mundial agora é a de uma sociedade obcecada pelo consumo, de super-ricos e de muito pobres. É mau não só para a arquitetura, mas também para a ecologia, por exemplo”, avaliou.
Frampton comentou que “o quadro geral é bastante mau, de uma sociedade sem equilíbrio”.
“O capitalismo extremo e a arquitetura espetacular não têm tido bons resultados. Pode ser que surjam mais trabalhos em pequenas comunidades, com boas intervenções, ou que as autarquias voltem a investir em obras públicas”, sugeriu o académico, ressalvando que, “num mundo em permanente mudança, é difícil fazer previsões”.
Sobre a conferência que dará em Lisboa, indicou que será “um pouco diferente” da realizada no Porto, e avançou que, em parte, irá falar das influências importantes que teve ao longo da carreira, como foi o caso da filósofa alemã Hannah Arendt, autora de “A banalidade do mal” e “As origens do totalitarismo”.
“Ela foi uma das pessoas decisivas para mim”, disse à Lusa.
O Prémio Carreira Trienal de Lisboa Millennium BCP foi criado para distinguir “um indivíduo ou atelier cujo trabalho e ideias tenham influenciado, e continuem a ter um efeito profundo, na prática e no pensamento atuais da arquitetura”.
Nas edições anteriores foram distinguidos o arquiteto italiano Vittorio Gregotti (2007) e o arquiteto português Álvaro Siza Vieira (2010).
A terceira edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa decorreu entre setembro e dezembro do ano passado, com uma programação de exposições, concursos e projetos sobre a prática arquitetónica contemporânea, dedicada ao tema “Close Closer”.
O júri que atribuiu o Prémio Carreira Trienal de Arquitetura de Lisboa Millennium BCP, no final da iniciativa, foi composto por Beatrice Galilee, Gonçalo Byrne, Guilherme Wisnik, Juhani Pallasmaa, Mónica Gili, Taro Igarashi e William Menking.
Fonte: Lusa