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Em 2022, a 11.ª edição do Open House Lisboa regressa mais cedo do que o habitual, mudando-se para a Primavera, no fim-de-semana de 7 e 8 de Maio. Para trazer um novo olhar convidámos o atelier lisboeta Aurora Arquitectos, fundado em 2010, para comissariar o próximo evento. Está nas suas mãos a definição do tema que orienta a selecção dos espaços do roteiro e definição de percursos urbanos, bem como a escolha de especialistas que nos acompanham na descoberta das diferentes arquitectura normalmente escondida do público.
Uma cidade é definida pelos ícones arquitectónicos, mas também pela massa anónima construída – uma rua «banal» pode imediatamente ser reconhecida como pertença de uma cidade pelas características de luz, cor, escala, materiais ou as portas e janelas padrões que têm origens geográficas, sociais, culturais e simbólicas. Essa identidade está em permanente transformação e cada novo projecto é uma contribuição para este património colectivo. Uns propõem novas leituras e interpretações, outros são aparentemente mais conservadores e privilegiam a arquitectura do passado.
Se o exterior dos edifícios está limitado pelas normas urbanísticas para preservação da identidade colectiva, os interiores são do domínio privado, um património invisível que evolui de forma mais livre. Formam uma segunda linha, um campo de criatividade e transformação do espaço mais expressivo, criando edifícios gradualmente mais ambíguos, fruto dessa dualidade entre a intervenção interior e exterior.
As fachadas “da continuidade” são mudas relativamente às novas formas de habitar, apenas visíveis no interior – edifícios modestos transformados numa única residência ou subdivididos em apartamentos, palacetes convertidos em hotéis, escritórios, ginásios, lares de idosos ou restaurantes. Todas estas transformações interiores, vistas em conjunto, de que cidade são reflexo? Que identidade invisível é essa? Se retirássemos as fachadas, que Lisboa ficaria à vista? Onde começa e acaba a identidade da cidade?
O atelier Aurora Arquitectos, fundado por Sofia Couto e Sérgio Antunes, foi a consequência de um percurso que começou durante o período académico, tendo-se fortalecido com a experiência com o colectivo Kaputt! Já com uma equipa ampliada, o atelier trabalha projectos de variadas escalas com um enfoque mais recente na reabilitação urbana. Na abordagem destaca-se a reacção ao local, aquilo que faz parte da existência do espaço e outros elementos da construção, aplicando o desafio de interpretar, esmiuçar, copiar, distorcer e até ironizar essas matérias-primas, devolvendo-as ao local de uma forma nova e inesperada.