MODO Arquitetos Associados projeta novo Cineteatro São Pedro em Abrantes

Categorias: Arquitetura

A reabilitação do Cineteatro São Pedro, em Abrantes, com projeto de autoria do atelier MODO Arquitetos Associados, já tem Projeto Base aprovado, num investimento que deverá orçar 1,5 milhão de euros.

As mudanças passam pela ampliação em terreno contíguo, de modo a garantir uma melhor acessibilidade ao edifício, nomeadamente, para cargas e descargas e para garantir mais uma saída de emergência. Por outro lado, o palco vai ser aumentado, a régie é transferida para o balcão conhecido como ‘piolho’, que deixa de existir com lugares sentados, e o sistema de aquecimento da sala passará a estar debaixo das cadeiras.

O executivo municipal de Abrantes aprovou por maioria o Projeto Base de Restauro, Reabilitação, Remodelação e Ampliação do edifício do Cineteatro São Pedro, em Abrantes, durante a última reunião de Câmara Municipal. A decisão foi tomada na terça-feira, 4 de agosto, e contou com o voto de abstenção do vereador do BE por reclamar “o direito à informação” atempadamente e defendendo uma reunião sobre o Projeto Base antes da reunião de Câmara. O executivo socialista disponibilizou-se para explicações mais detalhadas.

A proposta do Projeto Base/Anteprojeto incide na reabilitação do espaço exterior, interior e envolvente. A intervenção prevista inclui uma ampliação em terreno contíguo, de modo a garantir uma melhor acessibilidade ao edifício, nomeadamente para cargas e descargas e para garantir mais uma saída de emergência.

Durante a reunião, o projeto Base foi explicado pelo vice-presidente João Gomes, começando por dizer que além da reabilitação do espaço exterior “cobertura, pinturas e todas as intervenções de caixilharia que estão previstas”, o Projeto Base inclui “uma ampliação para acessibilidades e saídas de emergência” havendo “outra entrada para cargas e descargas para os espetáculos”. Será uma nova construção lateral, em formato de corredor, “que fica dentro no terreno confinante com o edifício e permite essa melhoria”.

O projeto prevê também a ampliação do palco. Além dos camarins localizados no piso 0, o plano prevê a construção de novos camarins ao nível do piso menos 1, de forma a criar condições para diversos tipos de espetáculos. As escadas de acesso à teia serão reconstruídas e irá ser instalado um monta-cargas de apoio ao palco.

O palco “será aumentado em toda a sua dimensão” reduzindo uma fila de cadeiras e “vai descer, perdendo a ligeira inclinação para ficar nivelado”. Um nível abaixo do palco “nasce uma porta onde teremos a monta-cargas que irá permitir a sublevação dos equipamentos para os espetáculos”, avançou.

A plateia será remodelada e terá um novo perfil de inclinação, cadeiras novas, o sistema climatização da sala (AVAC) passará a ser feito pelo pavimento, de modo a ter uma melhor rentabilidade e melhor conforto aos utentes do espaço e incluirá tratamento acústico das paredes e restauro do teto falso.

A régie, sendo fundamental para o controle da qualidade do som da sala, irá ser instalada no 1º balcão, trazendo a bancada de controlo de som para dentro do auditório.

O balcão conhecido como ‘piolho’ “vai ficar fechado para já, e por cima do segundo balcão vai aparecer a régie [cabina para controlo técnico de um espetáculo] que estava cá em baixo”, explicou, por sua vez, o presidente da Câmara Municipal, Manuel Jorge Valamatos.

Por seu lado, João Gomes deu ainda conta que “todas as acessibilidades às coberturas vão ter uma construção nova e a colocação de luz será toda revista. Além de ter camarins no piso menos um, naquela cota abaixo do palco, vamos ter camarins no balcão ao nível do palco, onde já existiam, mas vamos reforçar a oferta para dar resposta a outro tipo de espetáculos”.

Será igualmente alterado “todo o sistema de aquecimento e de ventilação do Cineteatro. Funcionava de cima para baixo o que era altamente dispendioso porque o calor sobe e demorava mais tempo a aquecer a sala. O aquecimento será feito ao nível do piso e cada cadeira vai ter por baixo um sistema que permitirá uma maior rentabilidade a nível de custos e um maior conforto na sala”, detalhou ainda o vice-presidente João Gomes.

O vereador informou ainda que o Plano e Segurança e Saúde e o Sistema de Transporte de Pessoas e Carga encontra-se já na posse da Câmara Municipal.

Contrariamente a Armindo Silveira, eleito pelo Bloco de Esquerda, o outro vereador da oposição, Rui Santos, eleito pelo Partido Social Democrata (PSD) considerou suficiente a explicação do executivo socialista. Justificando “não ser engenheiro nem arquiteto” questionou sobre o valor financeiro associado à intervenção.

O presidente da Câmara destacou o facto de “estarmos a fazer um grande investimento público” para colocar este equipamento cultural de promoção e difusão de atividades culturais e artísticas, ao serviço da comunidade abrantina e da região.

O valor estimado da obra ascende a um milhão e quinhentos mil euros (concretamente 1.523.625,00 euros acrescido de IVA), nas condições em que se encontra, condicionado à obtenção de pareceres favoráveis das entidades externas entretanto consultadas.

“Os pareceres já foram todos pedidos, estamos a aguardar”, disse o vereador João Gomes ao mediotejo.net sem uma data previsível para a chegada das respostas mas “esperamos que seja o mais rapidamente possível”, acrescentou o responsável, até para que o Município possa avançar para uma candidatura a financiamento comunitário.

Após a obtenção dos pareceres favoráveis das entidades externas consultadas, a Câmara comunicará à sociedade comercial MODO Arquitetos Associados Lda. no sentido de prosseguir para a fase 2, correspondente ao Projeto de Execução.

Históricamente, e segundo a Direção-Geral do Património Cultural, o Cineteatro São Pedro “foi encomenda de um grupo de cidadãos de Abrantes que depois se constituiu em sociedade comercial – Iniciativas de Abrantes, Lda.

Foi levantado no local onde outrora esteve edificada a igreja de São Pedro (1708), destruída para a construção do Cineteatro, e abriu as portas a 19 de fevereiro de 1949. O projeto do arquiteto Ruy Jervis d’Athouguia, datado de 1947, foi de alguma forma condicionado quer pela implantação do edifício no terreno, quer pelas fundações já existentes de um primeiro projeto, datado de 1946, da autoria do arquiteto Amílcar Pinto.

Implantado no Centro Histórico de Abrantes, tem a fachada principal virada a Norte, para o Largo de S. Pedro, nas imediações do Adro da Igreja de S. Vicente. Apresenta planta retangular, desenvolvida segundo o eixo Norte-Sul, com corpo de camarins e salão de festas adossado à caixa de palco e parte da plateia. A volumetria é horizontal, com aproveitamento de desnível do terreno, e as coberturas são mistas, em terraço e telhado, escondidas pelo remate murário.

A um rigoroso funcionalismo do espaço interno, transparecendo no tratamento das fachadas, associa-se um elaborado projeto de decoração de interiores, ainda visível nos revestimentos do pavimento do átrio e do foyer do 1.º balcão e nos revestimentos das fachadas com placas cerâmicas negras conjugadas com as janelas de vários lumes generosamente rasgadas.

A distribuição dos espaços funcionais internos encontra-se organizada da seguinte forma: no corpo principal sucedem-se os espaços de estar e de apoio, o espaço cénico (o auditório e o espaço técnico e de cena – a caixa de palco; o corpo adossado à fachada lateral Oeste ficou reservado para os espaços de apoio à cena (camarins) além de incluir o salão de festas (1.º piso) e um foyer ao nível da plateia. Ultrapassada a entrada principal, abre-se o foyer térreo, acedendo-se à plateia por vão rasgado na parede fronteira ao 1.º balcão pela escada situada junto ao paramento esquerdo.

Os foyer do 1 e 2.º balcões sobrepõem-se ao térreo e beneficiam da iluminação natural garantida pelo envidraçado do pano central saliente da fachada principal”.

Entre 2000 e 2001 foram realizadas obras de remodelação arquitetónica no imóvel, que se traduziam na recuperação dos interiores e dos exteriores, financiada no âmbito do Programa Operacional da Cultura. As obras finalizaram em 2001, reinaugurando-se o Cineteatro a 5 de julho desse mesmo ano com a presença do então Presidente da República, Jorge Sampaio.

O edifico está encerrado desde 30 de janeiro de 2018 e, dois anos depois de impasse negocial, em dezembro de 2019 foram encontradas as condições necessárias para a compra do Cineteatro São Pedro por parte do Município.

Dois dias antes do encerramento terminara o contrato de comodato de cedência do imóvel que a CMA mantinha através de um protocolo com a sociedade comercial, proprietária da sala de espetáculos. O contrato havia sido celebrado por um período de 19 anos, com gestão municipal do edifício, visando a reabilitação do teatro.

O Cineteatro São Pedro passou definitivamente para o património do Município, em contrato formalizado no dia 21 de julho de 2020. O presidente da Câmara Municipal de Abrantes e os representantes da sociedade Iniciativas de Abrantes Lda. assinaram naquele dia a escritura de compra e venda do imóvel.

O valor da aquisição foi de 470 mil euros, cujo pagamento será formalizado com 71 mil euros a pagar depois do necessário visto do Tribunal de Contas. O restante valor será pago em seis prestações de 66.500 euros cada, até 2026.

João Gomes terminou a explicação e apresentação do plano de intervenção a executar fazendo notar que o Projeto Base “poderá sofrer alterações” relativamente ao Projeto de Execução.

 

Fotos © mediotejo.net

O cineteatro São Pedro foi inaugurado em 19 de fevereiro de 1949 e é da autoria do arquiteto Ruy Jervis de Athouguia.

Reunião de Câmara Municipal de Abrantes

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