Enquanto trabalhávamos no projeto de um parque urbano perto do mar, na Praia Norte de Viana do Castelo, foi-nos proposta a construção de uma pequena Capela de São Pedro. No local, frente ao Bairro dos Pescadores, existia um oratório envidraçado que tinha sido construído com poucos meios pelos residentes e deveria ser demolido segundo o programa de obras previsto. No entanto, havia vontade de perpetuar esta construção pertencente à comunidade, na qual os moradores tinham escolhido São Pedro, também pescador, como intercessor e que por isso encerrava grande valor simbólico.
A primeira intenção foi a de criar um espaço litúrgico aberto a todos, que convidasse à reflexão. Para isso era necessário ampliar o pequeno espaço de menos de dez metros quadrados, para vinte e cinco metros quadrados, uma vez que abrigava apenas duas a três pessoas e todas as celebrações comunitárias aconteciam no adro, frente à porta. Optou-se por manter uma implantação próxima da original, encurtando a distância da capela ao bairro, mas preservando um largo adro entre os dois, que permite a extensão da assembleia e mantém o enquadramento visual simbólico do edifício. No entanto, a nova conformação do volume construído da capela, já permite acolher no interior grupos de quinze pessoas em oração comunitária ou individual.
Tendo como ponto de partida um lugar de oração individual, a capela deveria ser um lugar tranquilo e de interioridade, para permitir o recolhimento e a oração. Por isso, escolheu-se um único material para construir a capela, o betão armado, que foi deixado à vista, com as faces marcadas pela cofragem em tábuas de madeira, sem acabamentos ou ornamentos. A geometria da massa de betão conduz visualmente até ao altar e é rompida apenas em duas frestas, que iluminam de forma ténue, soltando a parede do fundo.
A expressão natural das matérias pretende trazer para a arquitetura o valor da honestidade e a austeridade das superfícies sem acabamento reforça a procura do que é fundamental. Para um lugar de oração e reflexão, procurou-se um espaço acolhedor, mas indiferente, um espaço onde o tempo se faz essencial. Por isso, também o mobiliário foi construído totalmente em madeira, contrastando com o betão no conforto da temperatura, mas mantendo a crueza do acabamento.
A flexibilidade das assembleias levou à opção por bancos individuais que podem ser deslocados facilmente para reorganizar o espaço de acordo com o tipo de celebração. Podem dispor-se os pequenos cubos de forma linear para a oração individual e de forma circular para a celebração da missa, da palavra, ou de uma oração por algum morador falecido. Deslocando os bancos para o exterior, conforma-se no nártex o foco de um espaço celebrativo que se estende pelo jardim.
A abertura principal da capela é resguardada por quatro painéis ripados que, permitindo entrever, rebatem ainda de forma franca, estendendo por completo o interior para o exterior. No pequeno espaço de nártex coberto podem abrigar-se alguns participantes da celebração e o adro frente ao bairro pode acolher todos os que queiram juntar-se.
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Projeto
Localização
Bairro dos Pescadores, Praia Norte, Viana do Castelo, Portugal
Arquitetura
Atelier 66
Arquitetas responsáveis
Maria João Patronilho | Joana Ribeiro Martins
Engenharia
Sopsec
Visualizações Digitais
Joana Ribeiro Martins
Fotografias e Desenhos
Hugo Casanova | João Antunes
Ano
2020