A Casa de Santo Adrião é um exercício de equilíbrio entre necessidades que se opõem.
O Bairro Duarte Pacheco, onde a casa se insere, foi construído entre 1935 e 1939 como parte das políticas de habitação social do Estado Novo, num momento de severa necessidade de habitação capaz de cumprir com padrões mínimos de salubridade para as classes mais desfavorecidas.
Modestamente desenhadas num simplificado “Português Suave”, estas habitações económicas assentavam sobre fundações e paredes exteriores em alvenaria de granito, com as estruturas dos pisos e da cobertura elaboradas em madeira de carvalho. Volumetricamente muito simples, apresentavam fachadas planas com cantarias simuladas em argamassa.
Estes Bairros de Habitação Económica são documentos relevantes do urbanismo do Estado Novo mas a maior parte dos seus exemplos, entendidos como não tendo valor implícito, apresentam-se demasiado adulterados e delapidados para que a sua conservação seja pragmaticamente viável.
Tipologicamente, estas casas estão já demasiado afastadas dos padrões contemporâneos de habitar: a sua dificuldade em dar resposta às necessidades residenciais atuais e futuras -sofrendo com áreas mínimas e sobrecompartimentadas, fortes limitações funcionais e padrões de conforto extremamente baixos- é a razão principal pela qual a maior parte delas foi entretanto parcialmente destruída por modificações e expansões agressivas.
Assim, parte importante da abordagem a este projeto reside na recuperação de elementos já perdidos da construção original e na concepção de uma transformação funcional que não comprometa a sua identidade e os seus valores originais.
Embora tenha sido aplicado isolamento térmico pelo exterior, permitindo um desempenho energético com padrões atuais, todo o trabalho de simulação de cantaria foi recuperado.
Instalou-se caixilharia contemporânea com corte térmico e a paleta rígida e convencionada do Estado Novo foi quebrada com novas cores.
Existia também uma pequena garagem anexa. Esta singela construção foi ligeiramente expandida, alinhando-se com o volume da garagem vizinha, permitindo a criação de um novo escritório facilmente adaptável para quarto acessível.
Ambos os corpos são conectados por uma leve galeria, encerrando todas as circulações mas respeitando a leitura dos volumes autónomos preexistentes.
Embora mantendo a distribuição programática original (assim como a localização preexistente de todas as infraestruturas), redesenhou-se e aperfeiçoou-se o desenho dos interiores com vista a produzir uma organização mais apelativa, confortável e eficiente.
Repôs-se o soalho em pinho, assim como as paredes brancas que maximizam a sensação de espaço e a luz natural, e introduziram-se elementos em mármore de Estremoz nas zonas húmidas, numa abordagem pragmática e de baixo custo.
No rés-do-chão, contendo os espaços de natureza social, a abordagem foi a de remover toda a compartimentação, integrando o pequeno espaço de cave (revelando o sistema construtivo original, ainda presente) e redesenhando a escada de acesso ao piso superior de forma mais eficiente (sob a qual se encaixa uma pequena cozinha e se escondem uma instalação sanitária de serviço e uma área técnica).
No piso superior, constituído pelos espaços de dormir, o desenho dos quartos foi ajustado de maneira a torná-los idênticos entre si, com uma parede divisória mecanizada que se recolhe no vão da cobertura, criando uma grande suíte.
A Casa de Santo Adrião, na sua génese, procurava oferecer apenas mínimos de conforto e de salubridade à luz dos padrões da sua época -padrões que agora, só por si, seriam já considerados insustentáveis.
Este projeto procurou, portanto, não só resultar numa construção com desempenhos adequados para os dias de hoje (com o desafio acrescido de não descaracterizar o edifício, pondo em causa os seus méritos ou a sua identidade originais) como, sobretudo, desenhar nas suas áreas mínimas uma experiência de habitar rica e prazerosa, um lar com lugar para o conforto, para a serenidade e para momentos de desafogo.
Dentro de um contexto em que as limitações estão sempre presentes, tinha de ha
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Projeto
Cliente
Filipe Costa
Localização
Braga, Portugal
Arquitetura
Equipa
Tiago do Vale, com Maria João Araújo, Camille Martin, Priscilla Moreira, Florisa Novo Rodrigues, Teresa Vilar, Clementina Silva, Hugo Quintela, Adriana Gomes
Programa
Residencial
Especialidades
Construção
Fotografias
Área de implantação
95 m2
Área de construção
133 m2
Ano de projeto
2018-2020
Ano de construção
2020-2021