Casa Primus

Casa Primus  – “Esta casa representa a minha mente: sequencial, rigorosa, sistemática e clara ”.

Estas foram as palavras do comitente no momento em que viu a primeira proposta do projeto. A casa portanto, torna-se o reflexo de quem a vive, ao qual foi dado uma forma, transformando-o em arquitetura.
A arquitetura aqui responde às necessidades específicas do ser humano, sobretudo porque se trata de arquitetura residencial unifamiliar, onde o utilizador se torna parte ativa em todo o processo de elaboração do projeto. Por este motivo, quando nos foi exposto o forte desejo de uma casa em “ L”, decidimos acolher este grande desafio, sem preconceitos, procurando enfrentar os lugares comuns, experimentando, estudando os mestres e sobretudo focando-nos no objetivo de construir bem, acompanhando o projeto desde a sua concepção criativa até a sua execução em obra, com cura e dedicação, pensando na arquitetura como arte de oferecer.

Do latim primus, assim nasce a primeira obra, a partir da procura da essência, o primórdio de algo para o seu utilizador, assim como, para o seu criador.

Casa Primus volta-se para uma paisagem colinar generosa, desfrutando de uma vista única e privilegiada do contexto rural, apoiada delicadamente num pódio natural, suspensa a uma cota sobrelevada. A casa integra-se com o lugar, faz parte dele, e tal só é possível a partir de um trabalho de topografia que lhe permite acolher aquilo que a circunda sem nenhum limite, eliminando confins e onde o terreno é em continuidade com a paisagem e vice-versa. A arquitetura dialoga com a paisagem criando uma relação que nem é mimese nem antítese, mas o equilíbrio entre as duas. Esta linha horizontal acompanha o andamento contínuo da colina sem nunca o interromper. Ao mesmo tempo, a leitura desta linha branca e clara, destaca-se do fundo de perfil sinuoso da sua paisagem colinar verdejante onde casa e paisagem, graças à sua proximidade, reforçam e intensificam a diversa natureza delas próprias.

O exterior entra na casa, através de espaços de limite, os alpendres que são subtrações que rompem a rigidez do “L” tornando-se lugares que hospedam a vida doméstica, lugares do estar, momentos de proteção, momentos de transição e molduras para a paisagem.

O desenho, acompanha toda a obra, no exterior, assim como no interior, tornando-se o princípio ordenador contínuo, capaz de manter tudo junto para que o projeto se leia na sua unidade, onde o detalhe seja chave do todo e o todo se reflita nos seus detalhes, alimentado pela reelaboração da memória e das novas necessidades, concretizado através do trabalho atento da artesanalidade local. Portugal permite ser “arquitetos artesãos” onde cada elemento e detalhe possível do projeto é desenhado e construído à medida, tornando-o único porque é irrepetível, em claro contraste com a atual tendência serial.

Os detalhes nesta casa possibilitaram uma construção mais económica, simples e duradoura no tempo, na lógica da economia de meios e recursos, sempre mais necessária e que leva, frequentemente, a resultados mais interessantes.

A transição entre os quartos e o alpendre foi resolvida com a construção de um detalhe que permitiu uma passagem fluída e sem nenhum obstáculo à cota do pavimento ou à cota do teto, mantendo uma altura constante. A solução adotada é aquela de um sistema húmido, no qual a caixilharia é embutida no chão e a água atravessa um sistema de piso sanitário arejado composto por uma estrutura autoportante, o que permitiu a criação de uma camada de regularização sobrelevada e sucessivamente foi pousado o pavimento final em lajetas maciças de betão pigmentado, que tem em si a memória dos veios da cofragem em madeira que lhe deu forma e que, assim, diáloga com o pavimento em madeira no interior, numa solução de continuidade entre o interior e exterior. Por fim, a água sai através de uma pequena fissura intersticial entre o basamento de betão e uma solução de remate em aço galvanizado revestido a zinco, que se pode desmontar periodicamente para manutenção. Esta solução em zinco, continua em todo o perímetro da casa, destacando o volume branco, que assim é protegido e suspenso em todo o contacto com o solo, assim como aquele com o céu.

A solução de remate em chapa de zinco, de facto, encontra-se também na cobertura, permitido aligeirar a leitura da espessura da laje, que caso contrário seria excessiva, vista a proporção da casa, se bem que necessária por razões estruturais. A superfície envidraçada dos quartos reflete a colina para a qual se volta. Se bem que hospeda vários espaços, esta partição não é lida a partir do exterior porque as paredes interiores não se prolongam até ao calçado, mas sim reduzem a sua espessura até encontrar a caixilharia. A estrutura foi recuada e a alvenaria de tijolo foi substituída por um sistema acústico composto por painéis em madeira, lã mineral e membranas acústicas, tendo sido desenhado com o propósito de separar divisões diferentes, mas também servir de ponto de ancoragem de  toda a caixilharia do alçado poente.

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FICHA TÉCNICA

Projeto

Casa Primus

Localização

Ponte de Lima, Portugal

Arquitetura

LOPES PERTILE ARCHITECTS

Fabricantes

Fernando Caçador Lopes Construções

Marcarp Carpintaria

W7

Revigrés

Metalúrgica Dinis

Serralharia Quintiães

Tecnilima

Fotografias

João Morgado – Fotografia de arquitectura

Status

Construído

Área construída

270 m2

Ano

2017 – 2022

FOTOGRAFADO POR
Galeria
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