Edifício Barca Prestige – Quando surge um convite para projetar um edifício de apartamentos, imaginamo-lo num aglomerado urbano, e tentamos perceber um conjunto de fatores, como o tipo de existências com que irá a nossa peça conviver, quais as suas relações com o espaço público, a proximidade com o centro da cidade, entre outros. Porém, não é este o caso.
Numa primeira visita de reconhecimento ao local, deparamo-nos com um ambiente campestre de periferia a escassos minutos da vila de Ponte da Barca. O lote em questão surge com uma íntima relação com as hortas vizinhas e algumas vivendas implantadas num conjunto de baixa densidade. Em suma, sentimo-nos numa aldeia às portas da vila minhota. Este é o momento onde o sentido de urbe que nos está enraizado, se torna relativo.
O lote a implantar este edifício é fruto de um pequeno loteamento e o único ainda não edificado. Os 3 edifícios anteriormente construídos revelam uma linguagem pesada e monolítica refém de uma geometria fechada e linear, revestida pela monotonia de uma forra de placas de granito, que revelam patologias agregadas à fragilidade do material. Discordando do método, forma e materialidade das pré-existências, tentou-se valorizar o novo edifício com a desmaterialização da fachada principal do volume com 55 metros de comprimento, conferindo-lhe ritmo e concentrando os seus pontos fortes na relação com o anfiteatro exterior amplo e natural. Para reforçar essas relações, recuperaram-se elementos enraizados, que nos anos 40 e 50 já tinham sido aplicados na arquitetura portuguesa, como as amplas varandas de uma geometria mais utilizável, recebendo um verdadeiro espaço de convívio familiar e onde a presença das floreiras é uma regra para o convívio da vizinhança, ou a poética de vãos em forma de óculo, recuperados de introduções parisienses dos anos 30.
Porém, não nos limitamos apenas a relacionar visualmente o interior do lar com o exterior campestre. Fomentamos uma maior relação, de certa forma privada, equipando a cobertura do edifício com um conjunto de funções comunitárias para os seus habitantes, evocando a unidade e fazendo despertar os sentidos pela cor, sons e os aromas. Aqui podem relaxar em momentos de sombra pontuados em mesas de convívio familiar e comunitário, brincar com as crianças num pequeno parque, fazer cultivos em mini hortas, ou exercitar o corpo numa pista de jogging.
A filosofia do projeto resulta num edifício de 18 frações de tipologia T3, que se enraízam em algumas dinâmicas antigas, contudo modernizadas, bafejado por toda uma ampla vista a 360 graus sobre o campo e a serra.
A opção da cor das fachadas parte de uma estratégia de silenciar a dimensão do objeto em relação à envolvente verde, utilizando uma linguagem de desfragmentação da fachada, desmultiplicada em planos de vidro com diversas profundidades, e o betão aparente com a estereotomia das réguas de madeira, funcionando como uma abstração da materialidade da pedra granítica local. Tenta-se desta forma que o edifício faça parte do lugar, se integre na paisagem e no conjunto, mas que seja o mais ténue possível.
Este é um gesto que pretende fomentar um novo lar aos moradores, construindo um verdadeiro foco de relações pessoais, oferendo dinâmicas sociais como o caso da cobertura utilizável e mesmo o logradouro envolvente ao edifício, que se alarga organicamente aos edifícios vizinhos.
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