Inserida num lote de geometria irregular e rodeada por construções de escasso valor arquitectónico, esta moradia surge como uma consequência das suas condicionantes.
Se por um lado não há vontade de relacionar visualmente os espaços interiores da moradia com a envolvência imediata, por outro existe uma vontade incontrolável de a virar completamente para nascente, vista dona de uma beleza ensurdecedora e alheia aos olhares indesejado.
Outra condicionante é o facto de a sua orientação não ser a ideal, ou seja, a vista predominante encontra-se a nascente, a sul temos a estrema do lote e a poente uma estrada nacional com o café da aldeia do outro lado da rua…
Surge então a necessidade de introversão e hermetismo, fazendo com que o volume construído surja como um inerte, mimetizando-se com a natureza e assumindo a sua excepção no alçado nascente, cuja deformação volumétrica declara e acentua a vontade de abertura e entrega às vistas.
As suas formas são irregulares, a sua cor assume tons térreos e as aberturas em alçado são quase inexistentes, aparecendo sob a forma de pátios e clarabóias, visíveis apenas de planos superiores.
Fazendo o percurso de rampas que se sucedem desde a entrada no lote, somos levados ao momento de transição entre o interior e o exterior, que se anuncia através do seu revestimento em ipê, superlativo de excepção e convite à entrada através da sobredimensionada porta que separa o hermético e misterioso exterior do interior puro e cálido, com os seus espaços inundados de luz zenital e apontados ao vale, por onde o nevoeiro denuncia a passagem de um rio.
Uma assumida dualidade exterior/interior vem reforçar a ideia de desinteresse no relacionamento da moradia com a envolvente imediata, sem que isso prejudique a dinâmica vivencial do seu interior.
Programaticamente as zonas sociais da casa situam-se viradas a nascente (vale) e as zonas íntimas a poente (rua), sendo estes espaços separados por um grande pátio interior à volta do qual se pode circular, criando uma enriquecedora dinâmica espacial e visual.
PROJETO
GR House
LOCALIZAÇÃO
Sever do Vouga
ARQUITECTURA
PAULO MARTINS ARQ&DESIGN
COLABORADORES
Bruno Alvarinhas
ENGENHARIA
R5 Engineers
CONSTRUTOR
Fecha Coutinho Construções
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS
Its. Ivo Tavares Studio – architectural photographer