A reabilitação urbana de um lugar com as características de precaridade encontradas no Alto de Bomba, exige uma imersão diária da equipa projetista na vida quotidiana do lugar, vendo e sentindo o dia a dia dos moradores. Por isso, desde o lançamento do projeto juntamos à equipa dois grupos de 10 estagiários da universidade M_EIA, Instituto Universitário de Arte, Tecnologia e Cultura e da universidade Jean Piaget, respetivamente, para se garantir o sem entendimento pelas futuras gerações de arquitectos e engenheiros.
A materialização da estratégia dá-se através da caracterização inicial de cada área, cuja análise dos dados recolhidos permite construir um plano estratégico – a que chamamos plano de intervenção – que coloca os cenários e lança possíveis soluções para as questões físicas e sociais. Reflete-se sobre a infraestrutura, o desenho da superfície, os equipamentos coletivos e, sobretudo, abre-se a porta a momentos de conversa que permitem discutir cada fase do plano, escutar a voz dos cidadãos, os silêncios do lugar e associar os moradores ao projeto enquanto funcionários das obras em curso, pelo menos, numa ordem de 50% dos funcionários necessários em cada obra que começa.
Sobre um agora que já produz transformação, sentimo-lo mais fortalecido aquando da instalação do nosso escritório numa casa local. A participação diária de moradores, dos trabalhadores e da nossa equipa na discussão do projeto e na obra é acompanhada de ações sobre diferentes temas – rap e hip hop, agroecologia, participação social, educação, arquitetura, urbanismo, entre outros – que fortalecem o entendimento e a utilização dos novos espaços públicos, bem como, aumentam a proximidade que nos permite a escuta de constrangimentos e ousadias que fazem do Alto de Bomba um lugar de potência.
“Deixamos de escutar as vozes que são diferentes, os silêncios que são diversos”
Couto, Mia (2005):123
Desde a conclusão da primeira obra resgataram-se dois lugres de encontro onde a micro sociabilidade é potenciada: a praça dos jogos, habitualmente usada para os mais velhos se encontrarem na bisca e uril, e o campo de basquete, onde diariamente os mais jovens crescem, aprendendo com os dribles do jogo. No futuro próximo, mais exatamente durante o terceiro trimestre, no Alto de Bomba são lançadas mais três obras para que a totalidade de ação fique concluída e nas outras duas áreas, Fernando de Pó e Covada de Bruxa, lançar-se-ão as primeiras que, igualmente, suprirão o deficit urbano encontrado.
Assim como as vozes do Alto de Bomba, lentamente, se infiltram nesta ação coletiva, também os ofícios disponíveis – pedreiro, serralheiro e carpinteiro – se incluem no desenho, produção e execução de pavimentos, mobiliário urbano, guardas, entre outros. A teia de relações e ações que construímos/vivemos diariamente aponta fortalecer, ainda mais, o modo de vida de um lugar que surgiu da resistência e resiliência dos seus moradores.
Projecto
Reabilitação Urbana Alto de Bomba 1
Localização
Mindelo, Cabo Verde
Clientes
Ministério das Infraestruturas, Ordenamento do Territorio e Habitação
Arquitetura
OUTROS BAIRROS
Arquitetos Responsáveis
Nuno Flores , Ângelo Lopes
Equipa
Nuno Flores, Ângelo Lopes , Jakob Kling
Engenharia
Anyzabel Gonçalves
Paisagismo
Nuno Flores, Ângelo Lopes, Jakob Kling
Consultores
Manoel Ribeiro, Rita Raínho, Guilherme Gonçalves, Maria Estrela
Ângelo Lopes, Nuno Flores, Grace Ribeiro
Fotografias
Ângelo Lopes
Grace Ribeiro
Nuno Flores
Ano do projecto
2019
Ano da construção
2020