A INTERVENÇÃO NO ESPAÇO FOI INSPIRADA pelo Espírito do Lugar. Santa Clara 114 , rata-se de um edifício de início do século XX que em 1906 apresenta-se como armazém térreo, em 1908 recebe um piso superior generoso com sótão e em 1910 pontua-se com uma trapeira central destacada. Situado à beira-rio do centro histórico de Lisboa, incorpora o cenário urbano do mercado de rua português, na sua expressão mais popular, que é A Feira da Ladra. Convive este edifício apalaçado discretamente com o frenesim de rua, onde o acesso pelo nº 114 é um desafio por entre as bancas de antiguidades e objectos de origem incerta.
Devoluto o primeiro andar nos últimos anos, sofre alterações interiores que o desvirtuam mas ainda assim pautado pela escala, pela estrutura funcional e estética da construção portuguesa da época: pés-direitos altos e tectos trabalhados, carpintarias desenhadas, paredes forradas a azulejo e um sótão em toda a sua área.
O OBJECTIVO DO PROJECTO para o palacete popular foi a implementação de um bloco de quatro apartamentos T2, sem intervenção no piso térreo de loja que serve a Feira…Como cumprir com a função/programa, tendo como motivação voltar ao perfil genético do espaço numa área útil reduzida? Para nós foi claro que era preciso escutar o genius locci e respeitar um corpo urbano feito ainda de espírito e matéria.
No piso nobre inferior, foram preservados os elementos estruturais, tendo sido a escada comum a maior alteração por força do programa. No piso superior foi necessária a reconstrução da cobertura a duas águas e a sua ampliação através das duas trapeiras ovais a sul e cinco trapeiras a norte.
Os 4 fogos constituem um corpo novo interior, composto por duas linguagens arquitectónicas distintas: os dois T2 do piso térreo, comunicantes com o logradouro ajardinado, preservaram a beleza da tradição portuguesa pelo pé-direito generoso e pelo restauro dos tectos, com pintura decorativa mural ou com fingidos de madeira sobre perfis e ornatos em estuque, de decoração geométrica e vegetalista; Os dois T2 do sótão, condicionados pela nova geometria da cobertura, apresentam agora uma abordagem mais contemporânea principalmente na forma da captação da luz natural e da sua modelação pelos cheios e vazios. A cadência de clarabóias, alternadas entre zonas privadas e comuns, relembram a luminosidade generosa de Lisboa. As trapeiras ovaladas com terraço privado sobre a malha histórica ribeirinha portuguesa dão nome próprio a cada um dos 2 apartamentos.
E por fim, vestimos tudo a paredes brancas e materiais que perduram no tempo lusitano, como a pedra lioz, o azulejo original de época ou uma versão monocromática e vidrada, criando superfícies texturadas e reflectoras da luz.
O MAIOR DESAFIO ACONTECE em obra aquando da reconstrução da cobertura e do último piso e o escoramento dos tectos a restaurar. Devido à fragilidade dos elementos decorativos, deteriorados pelo tempo e ocorrência de humidades, a trepidação provocada pela acção de equipamentos pneumáticos e impactos de ferramentas pesadas, poderia causar o fracturamento das camadas de acabamentos a preservar. Foi uma obra a pinças!
Agradeço a toda a equipa que trabalhou para este resultado final, pertence a Todos.
Cumpre o Atelier Cento e Vinte e Seis o seu Mote: Fazer as Paredes Falar.
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Paula Barbosa Ferreira
Área de construção
315m2
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