O projeto incidiu num edifício de arquitetura civil de habitação, dita corrente, de construção pombalina de características de um edifício tardio de rendimento com a tipologia mais comum “esquerdo/direito”, que ao longo dos anos foi sofrendo algumas alterações de compartimentação e de uso.
A estrutura do edifício tem como material de construção por excelência a madeira, a estrutura de pavimentos, paredes, coberturas e escadas, quer para revestimentos de piso e tecto e ainda para elementos de caixilharia interior e exterior. A cal, as argamassas “pobres” as alvenarias ordinárias e as madeiras são os materiais que constroem este edifício de estrutura em gaiola. A estrutura das paredes da cave e r/chão, é constituída por grandes pedras irregulares, mas aparelhadas sendo guarnecidas com pedras mais pequenas. No piso térreo a estrutura é feita por paredes-mestras e pilares, de pedra de grande dimensão aparelhadas, ligados por arcos. As paredes de fachada são constituídas em alvenaria de pedra com guarnecimento e regularizadas com argamassa de cal, e a estrutura da Gaiola fica pelo lado interior, permitindo fixar à estrutura as cantarias dos vãos evitando que no caso de sismo estes elementos sejam projetados para a Rua. Estas paredes possuem vários elementos de alvenaria compacta de tijolo Lambaz como: arcos de ressalva dos vãos, arcos de compressão e cornijas.
No interior, os pavimentos eram em soalho de madeira à exceção das zonas húmidas que estavam revestidas com mosaico cerâmico; as portadas interiores, das janelas, as portas e os móveis de cozinha eram de madeira; as cantarias da chaminé de cozinha eram em pedra. A decoração interior de alguns dos compartimentos era feita através dos azulejos com motivos; lambris de azulejos (século XVIII) com rodapé esponjado, cercadura com motivos vegetalistas e padrão de motivos florais, outro lambrim com rodapé esponjado, cercadura e padrão com motivos florais; e um outro com rodapé esponjado, cercadura com motivos geométricos e padrão de motivos florais. Os painéis de azulejo, muitos deles os padrões já estavam incompletos.
A nossa proposta teve como intenção ajustar o programa pretendido à menor intervenção possível no imóvel, aplicando técnicas e materiais tradicionais, mas, quando foi necessário aplicar novos materiais, optou-se por materiais suficientemente testados e certificados, que são compatíveis com os outros materiais com os quais se ia interagir. Todos os elementos decorativos de origem da construção foram mantidos no local original e em alguns casos foram recolocados em outras zonas. As novas paredes foram contruídas de forma a minimizar o impacto na estrutura existente. Pontualmente houve necessidade de reforçar a estrutura original, o reforço foi feito mantendo o material original, madeira e em algumas situações recorreu-se ao aço. Manter a “Alma” do edifício era essencial para preservar um património arquitetónico relevante e ao mesmo tempo era uma mais valia para a utilização pretendida, uma grande percentagem de turistas que visitam Lisboa procuram a história.
Onde existiam 8 apartamentos e duas lojas, passou a existir 23 unidades de alojamento turístico (todos os apartamentos têm vãos que dão diretamente para a rua) e uma loja.
Nome do Projeto
Sapateiros 135
Cliente
Privado
Localização
Rua dos Sapateiros 135, Lisboa, Portugal
Arquitetura
lobovalente – arquitectura
Arquiteto responsável
Ana Lobo Valente e Rui Lobo Valente
Utilização
Aparthotel
Área bruta de construção
1345,22 m2
Ano de conclusão
2018