Kimbópolis – Unidade modular urbana em zonas rurais | Ilídio Daio – Arquiteto
Com crescimento urbano vertiginoso que muitas cidades africanas vão sofrendo, entre as quais Luanda a com aproximadamente 1/3 da população de Angola, verificando-se uma rápida e descontrolada urbanização dos centros urbanos, em que 57% da população vive em áreas urbanas, é urgente a adoção de novas abordagens urbanísticas partindo de um estudo aprofundado das aglomerados rurais .
Conceito Kimbópolis
Em algumas zonas periféricas dos centros urbanos e nas regiões do interior de Angola de forte influência rural a expressão “Kimbópolis, neologismo criado para caracterizar uma nova abordagem urbanística nestas regiões rurais, sem romper com os seus hábitos e costumes, técnicas construtivas e ambiente, mas antes organizando, modernizando e sistematizando-os para a constituição de um embrião de cidade (polis), tendo como referência na organização sócio-espacial das comunidades rurais (kimbo), onde a convivência e solidariedade são as características mais marcantes.
Deverá dar-se particular importância a herança tradicional dos aglomerados rurais típicos), para que de um ponto de vista crítico identificarem-se os modelos e sistemas espaciais característicos da nossa realidade sócio/cultural onde se verifica um complexo sistema hierárquico de centralidades (o chefe da família, o avô ou ancião, a autoridade comunal, o soba), a forte presença da natureza ou áreas verdes.
É possível compatibilizar o modelo “Cardus Decomanus” da herança grega usada no urbanismo convencional usado dois eixos formando uma malha ortogonal, com o sistema vernacular antropocêntrico dos aglomerados típicos.
Do habitat e hábitos rurais à habitação urbana no “kimbópolis”
É sabido que uma das características mais marcantes na habitação angolana, mesmo com a toda a diversidade étnica e climática é a propensão para estar fora da moradia de preferência à sombra de uma árvore, alpendre, galeria, etc.
Nisto o “habitat”, assume maior protagonismo que a própria habitação que apenas serve de abrigo para pernoitar. Neste habitat desenvolve-se diversas atividades diurnas e noturnas, onde mulheres desempenham um grande papel nas atividades diurnas e os homens nas noturnas.
Neste processo de urbanização pretende-se uma gradual mudança de alguns hábitos e realidades rurais como por exemplo o uso de latrinas. O conceito de hortas urbanas foi criado para evitar a rotura abrupta da relação com a terra, e também para garantir algum sustento alimentar. As actividades domésticas anteriormente ilustradas podem perfeitamente ajustar-se ao modelo urbano da “casa pátio”, onde a cozinha interior/exterior em relação directa com o pátio assume grande importância.
A habitação económica no kimbópolis é considerada no seu conjunto, potenciando o convívio e solidariedade dos seus moradores. A tipologia em pátio resulta eficiente para este objectivo por socialmente ajustar-se melhor aos hábitos e costumes da população nestas regiões rurais, onde estes pátios, podem eventualmente serem fundidos em casos de uma família alargada ou fortes laços de vizinhança muito característicos nas regiões rurais.
Por questões económicas as moradias são geminadas fig.15 partilhando as redes técnicas, e evolutivas com a melhoria progressiva dos materiais de acabamento, ampliação dos compartimentos ou criação de novos espaços, como quarto ou uma área comercial.
Projeto
Kimbópolis
Localização
Luanda, Angola
Arquitetura
Ilídio Daio
Imagens
Ilídio Daio