
O júri do prémio destacou a forma como Souto de Moura conciliou a construção do edifício com o jardim envolvente. “O edifício foi pensado tendo em conta os elementos fundamentais já existentes: o terreno e as árvores”, pode-se ler no comunicado do júri. “As duas estruturas piramidais, que se destacam na obra, são inspiradas num pormenor de uma das várias casas da vila, da autoria do também arquitecto Raul Lino. A natureza envolvente ajudou a decidir o material exterior, betão pigmentado a vermelho, em contraste com o verde do bosque”, continua.
No mesmo comunicado, o arquitecto explica que “nunca é demais contrapor a realidade abstracta e totalmente artificial da arte contemporânea, com a realidade quotidiana e dura que nos rodeia”, revelando que teve a preocupação de que cada sala de exposições do edifício tivesse sempre uma abertura para o jardim. “Para que o edifício não fosse um somatório neutro de caixas, estabeleci uma hierarquia, introduzindo duas grandes pirâmides no eixo da entrada, que são a livraria e o café”, justifica.
O prémio, no valor de 50 mil euros e que é dado de dois em dois anos, é uma referência na área da arquitectura e distingue obras que incorporam o material principal da actividade da Secil – o cimento – e que, ao mesmo tempo, “constituam peças significativas no enriquecimento da arquitectura portuguesa”, na expressão da empresa.
O júri deste ano foi presidido pelo arquitecto Duarte Cabral de Mello e composto pelos também arquitectos Nuno Brandão Costa, Siza Vieira, Diogo Seixas Lopes, Paula Silva e Luisa Marques.
Para a crítica de arquitectura, Ana Vaz Milheiro, a Casa das Histórias é uma obra “mais arriscada e menos confortável” para Eduardo Souto de Moura e por isso é também “muito importante”. “Esta obra celebra, de certo modo, uma ruptura no seu percurso”, explica Ana Vaz Milheiro. “Souto de Moura chegou a um momento em que começou a questionar a sua obra e todo o seu posicionamento, significando esta obra uma viragem mais clara”, continua.
“Quando a visitamos, as divisões parecem labirínticas mas depois quando vemos a planta percebemos que o edifício é muito organizado”, explica a crítica de arquitectura, acrescentando que a importância do autor da obra, “que tem influenciado uma série de gerações” com uma linguagem muito própria, terá tido também impacto na escolha. “Havia obras a concurso muito interessantes mas esta é com certeza muito significativa”, conclui.
Esta é assim a terceira vez que Eduardo Souto de Moura é distinguido com o Prémio Secil, depois de em 2004 ter sido escolhido com o Estádio Municipal de Braga, em 2004, e em 1992, ano da criação do prémio, com a construção da Casa das Artes no Porto.
Já este ano o arquitecto português foi distinguido com o Pritzker 2011, conhecido como o Nobel da arquitectura. O arquitecto português recebeu em Junho o maior galardão mundial da área numa cerimónia que contou com a presença do Presidente norte-americano, Barack Obama, que teceu rasgados elogios ao arquitecto. Nessa noite, Obama descreveu Souto de Moura como alguém que “nunca se satisfaz com soluções fáceis”, com “um estilo que parece tão espontâneo quanto é belo”.
Nascido em 25 de Julho de 1952, no Porto, o arquitecto Eduardo Souto de Moura iniciou o seu percurso profissional ao lado de Siza Vieira, com quem trabalhou durante cinco anos, até 1980, quando se licenciou pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. No mesmo ano, Souto Moura receberia o seu primeiro prémio, da Fundação António de Almeida.
Entre as suas obras mais conhecidas, destacam-se, além da Casa das Histórias, o Estádio Municipal de Braga (2000/03), a Casa das Artes no Porto (1981/91), a Estação de Metro da Trindade, o Centro de Arte Contemporânea de Bragança (2004/2008), o Hotel do Bom Sucesso em Óbidos, o Mercado da Cidade de Braga (1980/84), a Marginal de Matosinhos-Sul (1995), o Crematório de Kortrijk (Bélgica), o Pavilhão de Portugal na 11ª Bienal de Arquitectura de Veneza (Itália) (1985) ou a Casa Llabia (Espanha).Souto de Moura sucede assim ao arquitecto Nuno Brandão Costa, distinguido com o Prémio Secil 2008, pelo Edifício Administrativo e Show-Room Móveis Viriato, em Terronhas, Recarei (Paredes).
Imagem © NUNO FERREIRA SANTOS
Ver projeto no link.